top of page

Fermentação

Foto do escritor: Bioquímica naVidaBioquímica naVida

O que é

A fermentação é um processo anaeróbico (sem a participação de oxigênio), a qual tem como uma das suas funções a oxidação de NADH+H em NAD+, este o qual pode ser reutilizado, na glicólise por exemplo para a transferência de elétrons. Além disso, existem vários tipos de fermentação, como a fermentação láctica e a alcoólica, sendo que apenas a primeira ocorre em humanos.


Fermentação Láctica

A fermentação láctica ocorre em eritrócitos, músculos de contração rápida (branco) e diversos microorganismos. Nela, a enzima lactato desidrogenase catalisa reversivelmente a redução do piruvato em L-lactato e a oxidação do NADH+H em NAD+. Ou seja:

  • Enzima lactato desidrogenase - piruvato + NADH+H -> L-lactato + NAD+

Assim, como o lactato provoca acidose, ele é reconvertido em piruvato ou ele entra no Ciclo de Cori, no qual o lactato é exportado da célula até o fígado, onde é usado na síntese de glicose.


Fermentação Alcoólica

Já a fermentação alcoólica, ausente em vertebrados, é presente em leveduras e outros microorganismos, sendo muito importante na fabricação de pães, cervejas, champanhes etc. Ela ocorre em duas etapas, sendo elas:

  • Enzima piruvato descarboxilase, cofator Mg+, tiamina pirofosfato (TPP) - piruvato -> acetaldeído + CO2

  • Enzima álcool desidrogenase - acetaldeído + NADH+H -> etanol + NAD+

Assim, apesar de humanos não realizarem a fermentação alcoólica, consumimos bebidas as quais contêm etanol e, portanto, possuímos uma série de enzimas para a metabolização do álcool. Ela ocorre principalmente no fígado e envolve duas etapas, sendo elas:

  • Enzima citosólica álcool desidrogenase (ADH) - etanol + NAD+ -> acetaldeído + NADH+H

  • Enzima mitocondrial acetaldeído desidrogenase (ALDH) - acetaldeído+ NAD+ -> acetato + NADH+H

  • Enzima acetil-CoA sintetase - acetato + CoA + ATP -> acetil-CoA + AMP


Figura 1 - Ciclo de Cori. Criado com BioRender.com. #PraCegoVer Figura em ciclo com a representação de um músculo, de um vaso sanguíneo e um fígado enfileirados um em cima do outro nessa ordem de superior a inferior na região central da figura. No canto esquerdo do músculo há ‘’Glicose’’ com uma seta grossa para direita com a descrição ‘’Fermentação Láctica'' em azul claro, até ‘’Lactato’’, o qual sai uma seta pontilhada para baixo preta até ‘’Lactato’’ no vaso sanguíneo, o qual sai novamente uma seta pontilhada para baixo preta até ‘’Lactato’’ no canto direito da figura do fígado. Deste, sai uma seta grossa para esquerda, com a descrição ‘’Gliconeogênese'' em verde claro, até ‘’Glicose’’, a qual sai uma seta pontilhada para cima preta até ‘’Glicose’’ no vaso sanguíneo, o qual sai novamente uma seta pontilhada para cima preta até ‘’Glicose’’ no canto esquerdo do músculo. Além disso, há dois ‘’Glicogênio’’, um acima do músculo e um abaixo do fígado, ligados por meio de uma seta preta reversível às ‘’Glicose’’, localizadas no canto esquerdo do músculo e esquerdo do fígado, respectivamente.


Na clínica

Efeito de Warburg / Glicólise Aeróbica

A fim de crescerem, sobreviverem e se proliferarem mais rápido, células cancerígenas possuem um metabolismo diferente da de células normais ao terem um maior consumo de glicose e ao realizarem fermentação láctica mesmo na presença de oxigênio. Assim, apesar da fermentação ser menos eficiente que a respiração aeróbica na reciclagem de transportadores de elétrons, a primeira consome glicose de 10 à 100 vezes mais rápido que a segunda, sendo, portanto capaz de suprir a demanda energética celular.


Polimorfismo Genético

As enzimas ADH e ALDH apresentam diferentes isoformas codificadas por diferentes genes. Devido a isso, existe uma variabilidade entre etnias e indivíduos quanto à metabolização do álcool.

Indivíduos portadores da ADH3 (alelo da rápida metabolização do álcool) apresentam um risco aumentado de desenvolvimento de cancro de boca, quando comparados com os indivíduos portadores da ADH1(Carrard et al., 2006).

Já a ALDH possui isoformas citosólicas (ALDH1 e ALDH3) e mitocondriais (ALDH2 e ALDH4), sendo a ALDH2 a mais eficiente na metabolização do acetaldeído. Assim, indivíduos com mutações no gene da ALDH2 - muito frequente em populações do oeste asiático e seus descendentes -, possuem a atividade desta enzima fortemente afetada e, como consequência, passam a acumular acetaldeído no organismo após a ingestão de álcool. Visto isso, indivíduos com essa mutação que são consumidores de álcool são mais suscetíveis a desenvolverem alguns tipos de câncer, como o de esôfago, fígado, cabeça e pescoço, etc.


Alcoólatras Crônicos

Indivíduos que ingerem uma grande quantidade de etanol, como alcoólatras crônicos, podem apresentar a atividade da enzima álcool desidrogenase (ADH) bloqueada, realizando então a conversão do etanol em acetaldeído por meio de uma via alternativa, como pelo Sistema Mitocondrial de oxidação do etanol (MEOS) ou pela enzima catalase. Seja pela ADH, MEOS ou catalase, na metabolização do etanol há a formação de acetaldeído, um composto tóxico para a célula que pode causar desnaturação proteica, peroxidação lipídica e intensificação dos efeitos de radicais livres. Além disso, ao depender do consumo de NAD+ para a sua metabolização, a grande ingestão de etanol provoca um desequilíbrio na razão NAD+/NADH+H, afetando diversos outros metabolismos, como o de ácidos graxos e proteínas.

Assim, visto a necessidade de tratamento farmacológico para alguns dependentes, existem medicamentos que podem ser usados como por exemplo o dissulfiram, naltrexona e acamprosato. O dissulfiram especificamente atua como um inibidor da ALDH, provocando um acúmulo ainda maior de acetaldeído no organismo quando há a ingestão alcoólica, resultando consequentemente em diversos efeitos colaterais conhecidos como efeito antabuse ou efeito dissulfiram - como queda de pressão arterial, taquicardia, náusea, vômito, confusão mental, fraqueza, rubor, sudorese e cefaléia.


 

Referência Bibliográfica

  • CHANG, Jeffrey S.; HSIAO, Jenn-Ren ; CHEN, Che-Hong. ALDH2 polymorphism and alcohol-related cancers in Asians: a public health perspective. Journal of Biomedical Science, v. 24, n. 1, 2017. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5335829/>. Acesso em: 8 Nov. 2021.

  • ‌DEVLIN, Thomas M. Textbook of biochemistry: with clinical correlations. 7th ed, 2002. New York: Wiley-Liss.

  • LEHNINGER, T. M., NELSON, D. L. & COX, M. M. Princípios de Bioquímica. 6ª Edição, 2014. Ed. Artmed.

  • LIBERTI, Maria V. ; LOCASALE, Jason W. The Warburg Effect: How Does it Benefit Cancer Cells? Trends in Biochemical Sciences, v. 41, n. 3, p. 211–218, 2016. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26778478/>. Acesso em: 8 Nov. 2021.

  • LUÍS, André; CASTRO ; BALTIERI, Danilo. Tratamento farmacológico da dependência do álcool The pharmacologic treatment of the alcohol dependence. [s.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbp/a/8M8FC65BCPhX6WmVGXNVKLw/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em: 8 Nov. 2021.

  • VIEIRA, J. M. F. Metabolismo do etanol. Dissertação (Ciências Farmacêuticas) - Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2012.

3 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Formulário de inscrição

Obrigado pelo envio!

  • Facebook
  • Twitter
  • LinkedIn

Entre em contato: bioquimicanavida@gmail.com
©2021 por Bioquímica na Vida.

bottom of page